quinta-feira, 6 de agosto de 2020

COPOM: SELIC e os riscos inflacionários

Eu me preocupo com o fato do COPOM ter deixado a porta aberta para um novo corte dos juros em setembro.

Dizem que o objetivo é manter pressão sobre a curva de juros e reduzir a inclinação. Mas o efeito pode ser exatamente o contrário, com o mercado acreditando que o governo está subestimando os riscos inflacionários, já explícitos nos IGPs.

Além de toda aquela questão do delay da inflação, que começa na produção, passa pelo atacado e demora a chegar no varejo, com cada setor funcionando como um amortecedor, existe também um problema de metodologia. O grupo transporte é o principal componente do IPCA, com 20,8%. Só as passagens aéreas caíram 60%, e ninguém está usando avião. Sem essa queda nas passagens aéreas, a inflação de junho seria de 0,37% (0,11 pontos a mais). Desconsidera a deflação dos aplicativos de transporte e a inflação vai para 0,4% (0,03 pontos).

Essa abertura para novos cortes de juros vai pressionar o dólar, que por sua vez vai pressionar a inflação de custos, que vai pressionar a inflação no atacado, já bastante elevada. Ou o varejo repassa essa inflação para o consumidor ou vai quebrar.

Soma a tudo isso a clara ameaça de burlar o teto dos gastos públicos, na onda populista / desenvolvimentista / keynesiana do governo Bolsonaro, com risco de descontrole fiscal, e temos um cenário cada vez mais parecido com aquele que resultou na crise do governo Dilma.

Mercado de ativos está subindo sem fundamentos, baseado apenas numa inflação de ativos, causada por um movimento de rotation (pessoas físicas trocando RF por RV). Os estrangeiros, esses já retiram R$ 85 bilhões da bolsa neste ano.

Por enquanto, a festa vai continuar. Ações, FIIs, ouro, vai tudo subir. E junto subirão os riscos. É surfar a onda antes que ela quebre.

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