terça-feira, 8 de julho de 2008

As gordurinhas do IBOVESPA

Já virou rotina: sempre que a bolsa sofre uma queda mais forte, em determinado momento começam a surgir análises prevendo uma catástrofe. O curioso é que essas análises geralmente surgem depois que a bolsa já sofreu uma razoável desvalorização, não antes.

O que mais impressiona são os argumentos usados para justificar tais projeções. Algumas parecem não ter qualquer base teórica razoável, outras usam informações equivocadas ou que contradizem a teoria.

Neste final de semana, surgiu mais uma dessas famosas projeções. Desta vez, o argumento é que o Ibovespa, em comparação com outras oito bolsas, foi a que menos caiu. Por isso, haveria um gordura, espaço para cair mais, o que seria inevitável pois, existe uma suposta sincronia, uma harmonia com o resto do mundo. E desde quando as bolsas do mundo apresentam a mesma variação?

É evidente que podemos ter crises mundiais que afetam todos os mercados. Porém, no longo prazo, a magnitude das altas ou baixas é diferente. O que determina um índice é o conjunto de empresas que o compõe. O DJI, por exemplo, é composto por empresas da velha economia norte-americana, incluindo dinossauros como GM, IBM e outras empresas que já deram o que tinham que dar ou que vivem mergulhadas em crises crônicas.

O Brasil, por sua vez, é uma economia emergente, que sequer decolou. Ainda estamos num processo de concentração econômica, com a consolidação de grandes grupos como Vale, CSN, Bradesco. Não temos grandes instituições financeiras mergulhadas na crise do subprime. Não somos uma economia madura.

O gráfico abaixo mostra bem que a sincronia entre bolsas inexiste. Além do Ibovespa e do DJI, temos, para efeito de comparação, o índice da bolsa de Londres, que sempre teve um desempenho inferior ao DJI, fruto do perfil econômico da Inglaterra.

O Ibovespa pode até cair para os 30 mil pontos. Mas afirmar que isso poderá ocorrer tendo como base comparações com o desempenho das bolsas de outros países, que vivem momentos econômicos diferentes, é um equívoco. Do contrário, teríamos que cair não para 30 mil, para os 10 mil pontos.



3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela análise ponderada. Um pouco de sol não afasta as nuvens negras - opiniões catastrofistas -, mas ajuda a enxergar melhor.
No Brasil, nos últimos 25 anos, não lembro de um período econômico tão saudável, com empresas de vários seguimentos fazendo investimentos de longo prazo; não obstante, a má administração nos gastos públicos.
Paulo

Ricardo Sena disse...

Bom, pelo menos alguém não faz uma análise tão pessimista do cenário da Bolsa, acredito que a queda atual estão embasadas apenas em boatos, pois as empresas basileiras estão indo muito bem,a exemplo da Vale, petro, ciderúrgica, etc...parabéns pelo comentário.

Paulo Vieira disse...

O que não está dito no texto é que a pessoa que inventou essa história das gordurinhas orientou os investidores a assumirem posição VENDIDO A DESCOBERTO. Isso publicado num importante jornal.
Ontem tivemos um dia totalmente desastroso para quem acreditou nesse conselho. Sei que muitos, vendo DJI cair 2% na vespera, iniciaram o dia vendendo tudo. Muitos seguiram o tal conselho. Vender a descoberto é o caminho mais rápido para a falência.