quarta-feira, 23 de julho de 2014

FoF: qual a estratégia?

A carteira do fundo MXRF possui cotas do BCFF e do BRCR. O BCFF é detentor de cotas de diversos outros fundos e o BRCR é detentor de cotas do FII Prime Portfólio que, por sua vez, possui cotas do CNES e do TBOF. Todos os fundos cobram taxa de administração, alguns taxa de performance e, agora, imposto de renda sobre o lucro de eventuais venda de cotas. Mas afinal, qual o sentido de um fundo de fundos adquirir cotas de outro fundo de fundos? Ou melhor, qual a estratégia que justifica a compra de um FoF?

Os fundos de fundos surgiram como uma alternativa para pequenos investidores interessados em ter uma carteira diversificada, mas sem recursos para tal. Seria algo semelhante a aplicar num fundo de investimento em ações. Se o gestor do fundo for hábil, poderia atrair investidores interessados em obter ganhos adicionais através da gestão ativa. O fundo poderia enxergar oportunidades, trocar fundos com rentabilidade baixa por outros mais rentáveis, obter ganhos de capital, conseguir resultados que um investidor isoladamente não obteria. Todavia, a realidade tem se mostrado bastante diferente.

O MXRF é um fundo de papel que acabou se transformando num fundo de fundos. Foi lançado em 2012, por R$ 100,00, pagando R$ 1,50 por mês de rendimento. Hoje é negociado a  R$ 87,00 e paga R$ 1,00 por cota. O BCFF teve um desempenho pior:  foi lançado 2009, em 2010 valia cerca de R$100,00 e distribuía cerca de R$ 0,90 por cota, na média. Hoje o BCFF vale apenas R$ 75,50 e distribui R$ 0,70 por cota. O BRCR não é um fundo de fundos, mas sua gestão ativa não foi capaz de elevar os proventos no mesmo ritmo da inflação ( o último reajuste foi de 5% contra uma inflação de 6%) e as cotações atuais são praticamente as mesmas de meados de 2011. Afinal, qual a vantagem que o investidor obteve com fundos de gestão ativa, especialmente os fundos de fundos (FoF)?

Apesar de todas as desvantagens, os FoFs ainda possuem uma legião de seguidores e são recomentados por muitos analistas.  Um dos principais argumentos usados por quem indica FoFs é o fato das cotas serem negociadas abaixo do valor patrimonial. É a sensação de estar comprando algo com um desconto de 20%, um bom argumento para quem vende. Mas valor patrimonial é uma péssima forma de se avaliar um fundo. É preciso conhecer a metodologia utilizada para apurar o VP, ter informações atualizadas sobre a composição da carteira e saber detalhadamente de que forma ela foi montada.

Quando um FoF adquire contas de outro FoF, o trabalho de análise se torna um desafio quase impossível de se realizar. É algo que contradiz com o desejo simplicidade. Talvez essa seja a estratégia dos administradores: transformar o FoF numa caixa-preta. E mesmo a avaliação histórica  de desempenho é trabalhosa, em virtude das sucessivas emissões e, mais recentemente, o fenômeno das fusões. Essa falta de transparência coloca por terra outra “qualidade” dos FoF: o baixo risco decorrente da diversificação dos investimentos. Vacância e inadimplência não são os únicos riscos do mercado de FIIs. É a falta de percepção de que existem outros riscos, talvez mais relevantes, que levam investidores incautos a preferir FoFs. A falta de transparência e a complexidade das carteiras elevam os riscos destes fundos. Risco legal e risco operacional são algumas modalidades que se mostram mais elevadas nesses fundos e que já causaram estragos.

Por tudo o que foi dito, aplicar em FoF não parece ser uma boa estratégia. Talvez o último argumento seja que alguns desses fundos perderam tanto valor que seja inevitável uma correção (alta), ou seja, que a compra se justifique como uma estratégia meramente especulativa. De fato, esse é o único argumento que sobra. Neste caso, a melhor forma de avaliar um fundo seja através da análise técnica (gráfica) do ativo, buscando suportes, LTAs e pivots.


Gráfico comparativo do BCFF (em preto) com MXRF, XPGA, CNES, FEXC e PQDP.

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